Bibliografia
Réquiem para Lavine (poemas, 2015):
Em boa parte dos poemas reunidos nesta obra, o autor investiga, reflete e afinal alarga nossa percepção para esta crucial questão humana. Dentre os poemas merece especial atenção, O filho Pródigo. Sensível registro das fases da vida imersas neste brutal contexto social da atualidade -, até chegar à morte. Digno de nota. Realmente. Mas não é somente sobre a indesejada das gentes que o autor escreve. Sua poesia reflete outros temas com igual profundidade de forma a comunicar, ou melhor, fazer-nos refletir sobre o sentido da vida humana. E nessa busca para encontrar o significado da existência, está intimamente relacionado o sentido da morte. A nosso ver, o sujeito lírico da poesia deste autor acredita que a efemeridade e a permanência são polos de uma realidade mais abrangente, que vida e morte são dois contrários que se compensam, dois impulsos que resultam em equilíbrio, duas fases complementares de um mesmo ciclo. Muito embora a maioria de nós não esteja disto plenamente convencida. E mais, se depura deste fazer poético que apesar das contínuas mortes, a vida segue impassivelmente triunfante. É o que meu coração me fez sentir ao ler esta obra. Por isso o título: Réquiem para a vida! [Krishnamurti Góes dos Anjos]
Maçã Atirada sem Força (poemas, 2017):
Os versos de Helton Timoteo são inerentes ao seu interior, de modo que a relação entre autor e poesia é ligada em sua essência deste à gênese da vida, como dito no poema introdutório, “não consigo cortar o cordão umbilical que nos une, eu a ele – ele ao mundo”, ao se referir ao poema. Esta ligação íntima entre a arte exteriorizada no papel, e o mais profundo da essência do poeta segue pela vida, acompanhando o escritor diante do amor de uma mulher “submergindo nas águas noturnas do corpo dela”, ou nas lutas diárias de cada indivíduo, quando o mesmo se desorienta na escolha entre continuar na vida, ou abortar o ideal da existência, “a singela existência oscila, treme tranquila ao sopro do acaso”. O olhar poético de Helton é firmado com os pés no chão, o autor reconhece a pobreza, e a marginalização social como conteúdo a sua poesia, “a vida é covarde para quem vive na pobreza”. A poesia sonora, rica em rimas de Helton o faz um admirador das coisas sublimes da vida, como o poeta afirma “sou um enamorado da lua e das estrelas”, e nesta contemplação apaixonada pelas coisas naturais e divinas da vida, o poeta subtrai sua felicidade, “ a felicidade que subtraio disto justifica a minha existência”.
Última Flor (poemas, 2023):
“Última Flor”, terceiro livro de poemas de Helton Timoteo, foi dividido estrategicamente em três partes, de acordo, segundo o autor, com dois critérios: técnico-estilístico e temático. Na primeira e na segunda partes, a temática predominante é a morte, e o modo como ela afeta cada um de nós, não como algo oposto à vida, mas como o seu complemento e mesmo fundamento. Nelas se entrelaçam (em poemas plasmados com maior rigor formal), reflexões, saudades, melancolias, mas também muita ternura e esperança. Já na terceira parte (em poemas curtíssimos e com maior liberdade formal), a obra exibe uma pluralidade de temas, ora de forma extremamente afetiva, ora reflexiva e bastante filosófica, ou mesmo absolutamente ingênua, como se fossem pequenas margaridas florindo à beira de uma estrada. Vale muito a pena absorver as belíssimas flores-poemas deste livro!
A Canção de Variata (romance, 2022):
A LITERATURA É UMA ILHA de palavras cercada de branca solidão por todos os lados. Ilha de secessão, ilha artificial, ilha inautêntica, já há muito povoada, porém sempre reinventada. Enseada de imagens, é na linha tênue que a separa do vazio que ela esconde seu enigma de existir. Por mais que dentro dela haja quantos habitantes houver, haja sua fauna e sua flora, a literatura, em essencial solidão, nunca deixa de ser ilha. Incertos por descobri-la, leitores náufragos à sua espera, tomados de assalto em pleno mar ou desviados do circum-navegar, somos todos ao deixar o porto firme onde um dia o tesouro de nossas concretas evidências foi guardado. É na ilha que João Pescador busca reencontrar a dimensão perdida de sua existência. Se ele a perdeu no real (a verdade do mundo não mais se realiza), ele a busca na resiliência da ilha. Mas o que lá se encontra, se da ilha só nos resta a literatura, arquipélago de fragmentos? Exsurge então Variata: semeando torpores ao vento, doçura de menina, assombro de dilúvio ancestral, catástrofe de todos os ciclos, anuncia um talvez renascimento. “Quando estou só, não sou eu que estou aí e não é de ti que fico longe, nem dos outros, nem do mundo” (Maurice Blanchot). “Eu sou o que não é, aquele que cometeu secessão, o separado...” (Idem). A canção de Variata é um chamado à perscrutação da ilha interior, essa que está aí, mas que nunca se encontra: “A ilha ninguém achou / porque todos a sabíamos” (Invenção de Orfeu). Caio Souto.